sombras
Só as sombras é que se distinguiam na escuridão que se tinha tornado a noite. Os sons dos passos ecoavam pelas ruas desertas, os vapores tornavam o ar mais pesado de respirar. O desespero de tentar sobreviver por uma última vez aquela luz no fim do túnel que teimava em aparecer. Só mais uns minutos...
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O contraste com a noite anterior fazia soar uma enorme dor de cabeça. Teria sido mais um mero pesadelo ou mais uma cruel verdade que se encontra por mais fugas que se possa tomar. As feridas diziam que tinha sido mais uma noite de sobrevivência, talvez a última. Um rosto familiar passa em minha mente como um flecha cravada no coração. Toda a dor desaparece, um relaxante, mas só por breves instantes. Um simples toque na água calma cria a confusão, assim como aqueles sentimentos mais escondidos agitavam o corpo inerte sem destino aparente. Novamente aquela luz branca e forte ofuscante capaz de cegar de tal beleza. Um fechar de olhos para retomar a realidade e tomar consciência que teria sido a última vez de tal sorte, a última escapatória. Oportunidades raras para mudar o rumo, arrumar o passado para um canto e viver o presente com um sorriso. Novamente um rosto familiar mas desta vez mais defenido.
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Agora ali a saborear o prazer da liberdade, o último desejo sonhado tornado realidade, nada mais era importante, eram simples recordações que marcaram uma luta que se tornaram numa pessoa, uma vida que se tornaram num “nós”.