diário
O diário de couro azul escuro encontrava-se sobre a mesa de cabeceira feita de carvalho e esculpida graciosamente. Estava aberto com uma caneta de pena pousada no meio pedindo para ser pintado com palavras ao acaso contrastando com o branco limpo e sem história.
"Um sonho com partes de pesadelo, o perfeito com o imperfeito, o real com o irreal.
Um fim sem início, um início sem fim, perdidos pelos meios das histórias marcadas por derrotas e vitórias.
Apenas um botão de rosa vermelha se distinguia, marcada por lágrimas que mais pareciam sangue ao escorrer.
Fissuras numa parede que se abrem para um abismo profundo sem fundo visível e doloroso.
O som de folhas a voar com o vento e outras a serem esmagadas por passos rápidos e leves. Enquanto a pulsação aumenta sendo cortada por um frio que logo se torna num calor confortante, breve ardor que passa a um formigueiro quente e com vida.
O olhar habitua-se à escuridão da noite, as sombras dos ramos despidos das árvores que eram preenchidos por pequenas gotas de água congelada.
Avançar no presente com um tênue véu de sombrio arrastando-se pelo chão."
O quarto tinha sido invadido por uma rajada de vento fazendo a tinta derramar por cima do diário. Passará de páginas brancas pintadas de preto a um grande borrão preto e com ele se perderam todas as palavras soltas e sem sentido que só a pessoa que o escrevia compreendia. Um olhar ficou petreficado naquele cenário, tinham-se perdido lembranças escritas que tantos segredos haviam escondido até agora. Perdidos nas palavras, mas relembrados numa mente inconstante.