ambientes
O assobio suave do vento abana os ramos já despidos das árvores a caminho do céu, faz um bailado sem fim, nem forma com as folhas espalhadas pelo chão.
As primeiras gotas de chuva começam a cair sobre um chão seco pelo sol do solestício, um cheiro de terra molhada começa a pairar pelo ar anunciando a aproximação de um temporal.
Pequenas gotas batem na janela produzindo um som ritmado incontrolável, prosseguindo com a sua corrida até atingirem o fim da superfície.
Pessoas desprevenidas correm pelas ruas agitadas de chapéus e gabardinas prevenidos à procura de um lugar quente e seco para se acomodarem do contraste porque passam. Ambientes aconchegados e apinhados à espera de uma aberta para poderem retomar às suas casas talvez também aconchegadas e mais calmas ou precisamente o contrário.
O vento deixa de fazer as cortersias principais com as folhas que se tornaram pesadas querendo ficar coladas ao chão, passando as honras à chuva. Leve mas pesada ao cair sobre algo parecendo pequenos pedaços arrancados das nuvens negras encobrindo o sol, senhoras de si próprias.
À parte destes acontecimentos encontra-se alguém apenas a observar, como se a chuva a bater e a escorrer pelas roupas e corpo fizessem parte do habitual. A agitação não importava era como se o mundo estivesse a andar em câmara lenta e o movimento de cada pessoa era deliniado e entendido. Como se existisse uma caixa invisível e atravessavel e dentro desta um observador indiferente. Um dia curto e molhado mas apenas acizentado.
Um ambiente às escuras iluminado por vezes com um relâmpago, distinguem-se faces de objectos mas não quem por entre eles permanece. A tempestade aumenta de intensidade, o vento provoca a chuva e vice-versa, como uma revolta ou uma maneira de libertação, batendo na janela. Deixam de haver sons separados para se juntarem todos num só. Gotas a escorrer pela janela, outras a baterem no vidro, uivar do vento tentando invadir novos espaços, o tic-tac do relógio, a respiração calma ou ofegante. Uma noite escura e prolongada mas não silenciosa.
Está confuso? Sim, está. É assim que o meu mundo tem anado ultimamente.
Pareço o saramago a escrever (já ando a ler o memorial do convento e já não é habitual escrever tão pormenorizado)? Não sei, só quem ler é que me pode responder a isso.