Tinha uma meta mental para os 45 dias, metade dos 90 dias já passaram e eu continuo a dar o meu melhor para viver mais um dia, já só faltam outros 45 dias para voltar a ter-te nos meu braços, sentir o teu cheiro e poder finalmente voltar a dizer que estou em casa. Infelizmente haverão mais 6 meses, mas já estamos a metade de metade desses.
Esperava que por esta altura já fosse capaz de lidar bem com os meus sentimentos e emoções, viver sem ter a ansiedade ou depressão à bater constantemente à porta. A verdade é que a ideia que eu tinha de uma relação à distância é que ira ser mais fácil e iria ser como em "histórias" que ouvia. Estava errada! É complicado, o lado que fica é quem acaba por sofrer mais porque pouco se altera na rotina e a falta da pessoa é muito mais sentida, depois vem as memórias despultadas pelas coisas mais simples no ambiente ao redor. Mas também não é fácil para a pessoa que vai, apesar de ter mais distrações e uma vida completamente nova e querer e precisar de aproveitar, a falta e as saudades também são sentidas. Depois vêm os pormenores e as circunstâncias, a falta de tempo, privacidade, incompatibilidade. Mas quando se ama, não há desculpas, há sempre uma oportunidade para aproveitar, uma mensagem ou uma chamada não levam assim tanto tempo e no fim compensa sempre para diminuir a distância.
Como pessoa aprendi e continuo a crescer, sei quem sou e sei o que quero! É nisso quero agarrar-me e continuar a aprender, a como conviver comigo própria. Ganhei a minha rotina e sempre que posso, ou tenho forças acrescento algo ao meu dia para a monotomia e a solidão não se tornarem tão pesadas. Porém viver com ansiedade e sentimentos e emoções que me levam a uma depressão, trouxeram o meu lado negro de volta. A escuridão é confortável, mas não é um bom lugar para se viver porque põe-me constantemente no limite à espera que o dia seguinte seja melhor, ou tenha força suficiente para me agarrar a luz de presença, que estava ali para mim ao fim do dia.
Acabei por criar uma separação entre a minha personalidade, a parte racional que tenta estar focada nos seus objectivos, agarra-se as palavras que leva no coração, aqueles pequenos momentos e gestos, que no final desta experiência estarei ainda mais forte e preparada. E a parte emocional, que infelizmente, é um problema porque a cada dia que passa a dor da saudade e falta física são mais sentidas e só aumentam aquela ferida que ninguém é capaz de entender. Perco completamente à minha razão, sobrecarregando a pessoa que mais amo porque tento aguentar tudo sozinha. Sempre mantive tudo para mim, até alguém roubar o meu coração e fazer-me voltar a ligar, a partir daí as pessoas que considerava mais próximas simplesmente desapareceram ou a vida aconteceu e magoou. Inconscientemente voltei a fechar-me no meu lugar escuro confortável e sussurrar aquela luz de esperança. Estou cansada de passar os dias a chorar, à espera que algo mude porque isso não irá acontecer, mais uma vez magoou profundamente. É assim a minha "sina" por enquanto, vai continuar a doer, vou continuar a ter crises de desespero mas não posso viver na escuridão por mais que seja o lugar onde me sinta mais confortável. Os sentimentos do início voltaram à tona e isso esta a levar-me novamente ao extremo e eu tenho que ser parada!
Ao fim de 45 dias continuo a sobreviver e a lutar contra mim, contra a distância, contra os sentimentos, pressão, mas apesar da profunda dor e da solidão que sinto, não estou sozinha. Voltei a dar uso aquelas máscaras guardadas no armário, sei o que é preciso ser feito para sobreviver e não sucumbir ou perder-me nos túneis da escuridão.
Desculpa, mas sou uma pessoa complicada, é preciso ter paciência e ser chamada à realidade várias vezes. Sou assim e gosto e não vou mudar porque apesar de serem os meus defeitos é o que me faz ser aquele doce coração.