Quando ele foi embora, fui capaz de escrever logo a seguir sobre o momento. Mas quando foi a mim, não consegui. Era muita coisa para digerir, e agora têm-me vindo à memória esses momentos. Parece que já foi há imenso tempo, há 3 meses, mas com toda esta situação os dias são mais longos do que realmente são....
Despedir-me dos meus pais foi a primeira facada no coração, acho que eles aguentaram melhor as lágrimas do que eu. Na viagem para Aveiro, ia agarrada a fazer festinhas ao kokie, e numa tentativa escusada de segurar as lágrimas e com o pensamento que só ia ser pior no dia seguinte.
Aquela noite pareceu como tantas outras, conversas longas no sofá, a rotina de ir para a cama, ele e o gato às turras, netflix. Incrivelmente adormeci rápido e passadas poucas horas o despertador toca. Arrumar o resto das coisas na mala, arranjar-me e despedir-me de uma casa, completamente abraçada ao kokie a conter as lágrimas e conseguir deixá-lo ir. 1 hora e meia depois estava no aeroporto, com o corpo a começar a tremer e já com um aperto enorme no peito. À entrada da segurança, abraçada a ele, por longos minutos, e sem coragem para o deixar ir, as palavras ainda ecoam na minha cabeça, os carinhos. Após algumas lágrimas, passo a segurança, eu do lado de dentro, ele do lado de fora, separados por um vidro. Até que ele tem que ir embora e aqueles últimos segundos ficaram gravados na minha memória.
Tinha que engolir as lágrimas, entrar em modo automático, e consegui até chegar à porta de embarque e tudo deixar de fazer sentido. A ansiedade começa a tomar conta, tremores, dificuldade em respirar, lágrimas que escorrem sem parar. O que estava a fazer? Largar tudo o que conhecia para trás. Ir sozinha numa aventura para outro país. Não era capaz, não estava pronta. Queira abortar missão, voltar atrás na decisão. Queria voltar para os braços dele, para a nossa casa. Estive bem perto de largar tudo, o meu corpo e coração pediam para desistir e a minha razão estava com enorme vontade de ceder.
Tinha imensas saudades de andar de avião, mas não consegui aproveitar o lindo nascer do sol acima das nuvens. O meu corpo não parava de tremer, estava extremamente enjoada dos nervos e passei maior parte da viagem com os olhos fechados a tentar ficar meia adormecida. O avião aterrou, já não havia volta a dar. Tive sorte de ter quem me ajudasse no primeiro dia e com uma enorme paciência, porque não conseguia parar de chorar, o desespero de estar sozinha e comigo mesma gritavam bem alto, aqueles pensamentos: não sou capaz, quero e preciso de voltar, porque é que tomei aquela decisão, o que estou a fazer com a minha vida, continuavam bem presentes. Cansaço, medicamento e após muito choro, o corpo e mente adormecem.
Foi um dia longo, doloroso, passado em dois países, com imensas emoções à flor da pele, com muita lágrima e com um buraco enorme no lugar do coração. Aguentei, como conseguia naquele momento. Tentei ser o mais racional possível, mas sou uma pessoa emotiva.
Custou terrivelmente, não dá para conter as lágrimas ao rever aquele dia. Custa cada dia que passa, com uma saudade pesada e uma vontade de voltar de voltar para ele.
Só quero estar nos teus braços novamente.