A minha história de deixar de tomar a pílula anticoncepcional
Acordei um dia com o meu corpo a pedir para deixar de tomar a pílula. No entanto essa ideia já andava na minha cabeça há alguns meses, só que com a mudança de Portugal para a Bélgica, já iria ter mudanças suficientes. Em abril, o corpo gritou e eu não tive como não ouvi-lo, por isso tomei a decisão de parar de tomar a pílula.
Foi uma decisão que o meu corpo tomou por mim, mas até esse momento ponderei bastante porque infelizmente a minha história não era a melhor, tal como as experiências que adquiri das mulheres da minha família. Um histórico familiar de dores e fluxos terríveis. Infelizmente, esses padrões ficaram gravados e passados para mim. Por volta dos 12-13 anos aparece-me a primeira menstruação e foi assustador com a quantidade de dor e fluxo, toda a mal disposição e a sensação de sentir-me suja. Isto levou-me a marcar uma consulta do ginecologista e comecei a tomar a pílula, não só por causa desses sintomas mas também porque tinha quistos. Nos meses seguintes os sintomas melhoraram para quase inexistentes e foram-se passando anos. Até uma ida à médica de família e ela decidir mudar a pílula, porque a que estava a tomar era a mais forte e a longo prazo poderia ter consequências. A partir desse momento começou o ciclo esgotante de não me dar bem com nenhuma, os sintomas que estão na bula ao fim de 6 - 8 meses começavam a aparecer em proporções extremas. Voltava a médica de família e ela argumentava que era normal haver sintomas secundários e faz parte. Como se o normal para grande maioria das mulheres pudesse ser considerado normal e continuam a haver médicos com esta conversa que já não cola (tema que infelizmente já foi abordado aqui com muita revolta). Apesar de o fluxo ser coisa que sempre se manteve igual e mínimo, dores, acne, enxaquecas que duravam dias, tpm e mudanças de humor. Houve um episódio que começou a querer fazer-me tomar uma atitude, um mês em que as mudanças de humor levaram a que me transforma-se numa pessoa que não era e ter não só o meu namorado, como outras pessoas a dizerem que aquela pessoa não era eu. Não me venham dizer que isto é normal, porque NÃO O É! Voltei a minha médica da família e ela veio com a mesma conversa e o meu copo a encher, voltei a mudar de pílula. Após 8 meses, os sintomas começam a agravar-se uma vez mais, e numa tarde ligo a médica a pedir para mudar a pílula. Nesse momento jurei a mim mesma que era a última tentativa.
Após tomar 5 pílulas anti-anticoncecionais e mais de 10 anos, parei. Estava com medo, porque ouvi e li relatos de outras mulheres em que a transição não foi fácil porque o corpo passa por um enorme detox hormonal e tem que se reajustar a produzir as hormonas naturalmente.
Durante a primeira semana estava a sentir-me bem, mas a segunda e a terceira semana foram más, mudanças de humor (ir do extremo de rir ao chorar, com inúmeros picos de ansiedade pelo meio durante uma quarentena), dores de estômago com ou sem comida no corpo, enjoos, inchaço e cansaço constante, calores. Depois começou a melhorar gradualmente, felizmente, apesar de até hoje ainda ter alguns dias com alguns destes sintomas mais acentuados. Ao princípio com os relatos que tinha ouvido, pensei que a minha menstruação não ia aparecer, apesar de sentir e observar as diversas fases do ciclo no meu corpo mas após dois dias o previsto, veio. Foi uma experiência totalmente nova, porque desde o início que tomava a pílula e apesar de ainda o corpo só agora estar a começar a desintoxicar, era sangue vermelho, vivo e verdadeiro. Nesse momento senti-me mulher!
Para ajudar nos sintomas, foi-me aconselhado experimentar tomar brahmi e shatavari e acredito que isso têm-me ajudado. Já se passaram 3 meses e sinto-me bem comigo própria, estar a redescobrir um ciclo menstrual e ajustar-me a ele. Re-descobrir-me ainda mais como mulher.
Vou continuar a deixar o meu corpo a cada desentoxicar e curar-se. Quando voltar à Portugal, logo verei se consigo dar-me bem como os metodos naturais ou terei que optar por outro, porque também não sei como esta a minha saúde feminina nesse sentido. Uma coisa é certa, pílula não volta a entrar no meu sistema!
Toda a jornada de auto-conhecimento levou a estar mais consciente do meu corpo e consequentemente o caminho levou-me a aprender o que é o sagrado feminino. A verdade é que uma mulher não carrega só as suas memórias, mas também de todas as suas ancestrais. É um conjunto enorme de acontecimentos, dores que ficam gravadas no corpo e que precisam de ser curados (o que tenho feito é através de meditação e é espantoso! Descobri o momento que marcou como seria a minha primeira menstruação, acontecimentos dos quais nem sequer me lembrava que deixaram uma marca, e o que mais me sensibilizou foi toda a dor de ser mulher do coletivo ao longo de gerações e gerações).