#5
Quando escrevo, não é por escrever.
Uma forma de tentar libertar pensamentos mais obscuros, uma forma de descarregar pensamentos mais duros.
Imagino no escuro, um sítio escuro, uma escuridão assustadora e dolorosa. Como uma caixa fechada sem ar, gritos que ninguém ouve. Num canto está escrito “Doí-me num sítio muito longe, remoto de todas as razões. Doí-me uma razão calcinada, terra de silêncioe ossos onde se vai para morrer.” Palavras, ditas ao acaso, mas que denunciam uma dor de grande fracasso, como um buraco, uma falha que engoliu toda a alegria. A sombra dos erros. Presa, mas disfarçada por sorrisos espontâneos que saem do corpo, não da mente.
Oração silenciosa da minha estúpida história, entregue à memória.
Minha alma entregue a um forte trovão, que me electrifica os dias, parecendo cortar, como se ficasse sem coração, um corpo moribundo. Que existe por existir e que vive por viver...
Sinto que há algo a fazer, mas são demasiadas sombras que teimam em não desaparecer. Isto não passa de um pesadelo que passará um dia e que é tudo histórias da minha cabeça, mas sei que faz parte de uma realidade. Não querem ver o que aconteceu de verdade, enganando-me assim todos os dias. Uma esperança diminuída, em que chegará um dia com uma solução definitiva?
No meu corpo (por cada corte que faço na minha alma, que por vezes acalma e alivia a dor) ficará um odor a podridão, um nojo ocultado, um frio no coração. Como uma flor que não é regada e se torna feia, no meio de um lindo jardim. Ficando sempre a esperança que amanhã será um dia melhor e que da minha cabeça desaparecerá este triste horror.