Continuação
Tempo que demora a passar, contando cada minuto, fazendo a diferença entre sobreviver e morrer.
Sob um chão gelado, um corpo luta por não se deixar ficar ali, naquele lugar vazio reduzido à escuridão, tapando as feridas com pedaços de roupa rasgados. Rapidamente ficam ensopados em sangue a gritar por vida mas desfalecendo nela.
Seria de esperar que a vida passa-se a frente dos olhos, neste tipo de situações, mas não. Perante esforços de sair daquele lugar a queda é maior do que a primeira, mas uma fisga de luz entrenha-se pelas fendas da porta. Existe um objectivo há que lutar por ele apesar das turbulências para lá chegar, uma força que brota de lugar desconhecido sussurando: uma batalha perdida não equivale a uma guerra também perdida. Perante tais pensamentos o corpo branco como fantasma, levanta-se medindo forças com a parede chegando a derradeira porta. A civilização do outro lado ou a solidão de não integrar sociedade nenhuma. Solidão só por si é um sentimento não um estado de viver permanente, existindo alguém à volta de um mero conhecido à pessoa que mais significa. Um último esforço para encarar o mundo, por azar a última vez. Um sopro de ar fresco ao abrir a porta, uma invasão de esperança, pequenos passos para o sol numa floresta coberta de neve. O sol já vai a meio tornando as sombras assustadores, o corpo está para lá do limiar da exaustão, deixa-se cair sobre a neve esperançoso que alguém o avistasse.
Corvos aproximam-se ao sentirem o cheiro a morte, querendo depenicar nas feridas ainda quentes. Sons de passos ao longe parecendo uma ilusão, a luz é cada vez mais forte aumentado também as sombras. Um equilíbrio entre as duas, continuar a luta seja vida com forças surgidas das memórias. Não é um fim, nem um início, apenas a continuação de mais um dia.