ansiedade nua e crua
Desde pequena que sou nervosa, é parte da minha personalidade. Em criança era protegida pelos meus pais por ser filha única, havendo certas situações em que tinha que ir fazer algo sozinha que me deixavam mais apreensiva, com o coração a bater mais forte, suor nas mãos, vergonha e querer um buraco para me esconder.
Naquelas alturas de avaliação na escola sentia-me um pouco mais nervosa ou quando tinha um dia mais importante. Talvez tenha influenciado a fase da minha vida mais sombria, os ataques de choro, os apertos no peito, não querer sair de casa e enfrentar o mundo lá fora, ficar sozinha no meu canto.
Quando entrei na universidade, a minha ansiedade começou a manifestar-se fortemente devido ao stress e à pressão. Começaram as crises de ansiedade silenciosas que acabavam com crises de choro. Dava por mim numa situação da qual não sabia como agir, como pensar, muito menos como sair daquela chuva de emoções. Em alturas mais críticas apareciam ataques de pânico que levavam o meu corpo para lá da exaustão, choro constante, falta de ar, aperto no peito e o pior é não ter maneira de me acalmar.
Tomei a decisão de marcar consulta com uma psicóloga, estava numa altura da minha vida que andava perdida e a ansiedade era praticamente constante. Foi uma das melhores decisões que tomei, realmente mudou-me como pessoa e a maneira como lidava e passei à lidar com as situações à minha volta. Tive a sorte de calhar com uma profissional excelente, que me entendia sem eu precisar de dizer muito, que me indicava o caminho a seguir fazendo-me chegar lá por mim própria devido à maneira que me deixava a pensar. Tive consultas durante um semestre e ainda hoje tento continuar a ter presente certas palavras e ensinamentos, que me ajudam a sentir um pouco mais de controlo.
Veio aquele ano de relação à distância, houve muita ansiedade, muitos ataques de pânico. Depois veio ter concluído a licenciatura e não saber o que era suposto fazer, apesar de ter os meus planos, não tinha controlo sobre nada. O que me deixava constantemente nervosa e preocupada. Nada mudou, mas mudou porque estava mais racional, sabia o que estava a acontecer e que acabaria por passar. Não estava sozinha, apesar de esse ser o sentimento que está sempre presente de modo enganoso. Continuei e continuo a ter ataques de ansiedade, batalho com a minha mente e o meu corpo. A ansiedade e os pensamentos podem estar a ganhar, mas eu também posso ter controlo sobre a situação. É assim que quero pensar.
A verdade nua e crua, é que apesar de ter melhorado à nível emocional, saber gerir e lidar de uma maneira mais racional com a ansiedade e com a minha mente, despertou problemas físicos. Problemas de coração que estou a tentar solucionar, de modo a não se agravarem no futuro e não limitarem a minha vida no presente.
É um problema real, que têm consequências para a mente e corpo. Dá uma sensação de solidão, mas ninguém esta sozinho a enfrentar este problema. Não se cria resistância, aprende-se a lidar, a criar maneiras de minimizar os efeitos. Não fica tratado para sempre ou desaparece por magia. Existem recaídas, existem alturas em que se supera. É uma aprendizagem com a nossa mente, com o modo que vemos o mundo que nos rodeia.
A ansiedade é um hospedeiro que se instala e não volta a sair. Que se alimenta dos nossos medos, receios, inseguranças e atrai mais pensamentos negativos. Que pega nas nossas alegrias, conquistas, na nossa força e as distorce para passarmos a ver à sua maneira. É solitário, capaz de destruir o estado mental e transformar o estado físico. Nervosismo, tensão, tremores, lágrimas, aperto no peito, falta de ar, suor, dor de barriga, cansaço. Constrói uma montanha russa, que acaba num ciclo vicioso. Aquela presença constante, ao qual uma pessoa só quer gritar. É silenciosa, ataca quando menos se espera, faz sentir-nos pequeninos quando tudo é aumentado à nossa volta e dentro de nós mesmos.
Não é a ansiedade que nos define, somos nós que temos esse poder. É uma luta que é ganha diariamente.