brinda com canela
Inspirada no post da nala e de acordo com o típico conto de natal a decorrer na sapoesfera do imsilva, deixo a minha contribuição para esta época natalícia mas com um toque diferente.
Fim de tarde em dezembro. O frio já se instalou desde o início do mês, a chuva cai provocando um som relaxante, a lareira faz barulho de estalos ao queimar a madeira, e liberta calor que aquece o estúdio. O gato junto à lareira, esticado, vira-se quando uma parte do corpo fica demasiado quente e volta a adormecer e a saborear o aconchego. Com uma chávena de chocolate quente acabada de fazer, vai sentar-se no chão com o papel e caneta já preparados em cima da pequena mesa. Faz uma festa no gato que faz um som de prazer, dá um golo no chocolate quente e começa a escrever...
"Queridos ancestrais, um obrigado profundo. Por permitirem que hoje "eu" exista com direitos e deveres, por toda a luta pelo que achavam certa durante as diversas épocas, por todo o suor, lágrimas e dor derramada. Não foi em vão, porque a evolução vai ocorrendo... É verdade que ao longo dos séculos as tradições foram mudando e muitas ficaram esquecidas e perdidas. Espero que com a mudança discreta que esta a ocorrer, o que sobreviveu retorne!
Neste época natalícia, traz um sentimento ambíguo. Com o meu crescimento foi-se perdendo a tradição numa família pequena. Isto trouxe-me a emoção de ser "a deslocada" ao comparar-me. Sei que não é algo que só eu carrego, mas também com quem vivo debaixo do teto que me viu crescer. E com tanta mudança, conquistas e recomeços, o que quero é colocar o velho no novo e construir novas memórias que me confortem.
Com a casa decorada com velas de diferentes tamanhos e cores, ramos de pinheiros, pinhas, azevinho e paus de canela. Quero a chegada do dia para acender todas as velas, apagar as luzes e sentar-me com ele. À luz das velas partilhar-mos o jantar, termos um momento de olhar nos olhos um do outro e simplesmente sentir, brindar a tudo o que nos faz felizes e a tudo o que nos ensinou lições.
Que a luz retorne e nasça da escuridão, que haja partilha de amor e seja celebrada a gratidão de amar-mos e sermos amados. Que seja um feliz yule ou solstício de inverno. Obrigado, obrigado, obrigado."
Pousa a caneta e suspira profundamente. Com o movimento e som, o gato acorda e vai sentar-se ao seu lado. Faz-lhe mais umas festas que traz o som do ronronar e um olhar penetrante. Envolvida naquela atmosfera, agarra na carta e deita-a à lareira. Em segundos é consumida pelo fogo, provocando um crescimento e mudança da cor da chama. O seu olhar fica perdido no fogo. Um zumbido surge nos seus ouvidos e um enorme sorriso aparece na sua face.