cartas
Por mais que ela tentasse escapar da escuridão, olhando em frente e ignorar o meio em que a sua alma estava envolvida, não havia rota de fuga. Haveria algum momento em que ela iria chocar com algo que a fizesse lembrar que por mais que o dia fosse claro, iria sempre existir a noite, a gritar pelo nome dela. Esta voz era ignorada vezes sem conta porque no dia seguinte ela iria continuar à procura da luz que perdeu, que a foi deixando ao passar dos dias.
Ela estava tão concentrada a viver cada dia e a olhar em frente que foi deixando desvanecer o seu lado mais criativo, a sua forma de se expressar e libertar os pensamentos mais profundos. Até que por acaso e sem querer, ela encontrou as suas antigas cartas e uma nostalgia e escuridão se apoderou dela e que a obrigou a escrever.
“As cartas estavam todas juntas no fundo da caixa a espera de serem lidas outra vez, para mexerem comigo, o que já não acontece há algum tempo. Esta minha forma de liberdade foi sido posta de lado ao longo dos dias, semanas, meses porque que me rodeia envolveu-me de tal forma, deixei de ter tempo, paciência.
Agora que comecei a atingir o sucesso e faz parte do meu trabalho manter-me sempre atualizada, fiz uma mudança no meu armário quando as encontro e é por isso que estou a escrever outra vez. Para me libertar, já que a minha vida sofreu mudanças que me obrigaram a estar em mais contacto com a realidade que comigo mesma. São os anos 80, o que pode estar na moda hoje, amanhã já é passado, é necessário estar sempre atenta e preparada para as mudanças que podem ocorrer.
Mas essa não é a razão para estar a escrever…não posso mais fugir da pessoa que sou. Aquelas cartas foram escritas com um sentimento difícil de esconder, as palavras fluíam tão naturalmente que até entre as entrelinhas existem sentimentos, pensamentos, frases escondidas. Estivesse alegre ou triste, apaixonada ou coração partido, um dia bom ou um dia, nunca conseguia parar de escrever, era o que fazia melhor naquela altura. Mas será que agora ainda o faço? Será que consigo voltar a por tais palavras com tamanhas emoções?"