hoje és ouvida
E ela via-se mais uma vez de caras com os seus demónios. Não fugiu, ficou ali a olhar-lhes nos olhos. A sentir os triggers, a deixar os traumas vir ao de cima, a gritar internamente, a chorar desalmadamente. As lágrimas carregavam consigo anos de sentir o seu espaço pessoal a ser invadido, a sua voz não ouvida e respeitada, os seus desejos negados. De ser incompreendida ao ponto de colocar uma máscara que nunca foi sua.
Foi crescendo, a borbulhar em sentimentos que causaram uma ferida na sua criança, a construir muros de proteção, a utilizar uma máscara que ficou assimilada de que era a sua pessoa. O "problema era ela", daí calar-se, daí guardar tudo para si, daí ficar no seu mundo, daí carregar a dor dos outros e não só a sua. Assustada, sozinha, desamparada, impotente, pequena. Mas não era ela!, é o que foi assimilando, o que via e sentia, o que no pensamento ainda não formado de uma criança fazia sentido, criando uma verdade falsa e crença que ia crescendo.
Lágrimas que correm ... dor e libertação. Tristeza e alegria, clareza no meio de uma tempestade mental e sentimental, sozinha no escuro, dor no coração, leveza na alma. À sua frente, a criança e adolescente, a olharem para a mulher, que lhes têm dado colo, lavada na exposição e vulnerabilidade.
Choro, respiração, escrita para ajudar a integração. Coragem de enfrentar a sua sombra não reconhecida. Uma dor que percorreu e juntou anos. Um momento doloroso mas que traz consigo a gratidão de se ter permitido...
growing through the internal pain