Lembranças do meu cão, Alex
A fazer algo banal lembrei-me das manhãs de sábado de quando era criança. Era o dia para fazer a cama, tirar a usada e colocar a lavada, aspirar a casa, limpar o pó. A minha acordava-me ao deixar o meu cão, Alex, entrar no meu quarto, que saltava para cima de mim, lambia-me e punha-se a morder os meus pés que estavam por baixo da roupa. Quando finalmente me decidia a levantar e tirava lençóis da cama, um era para mim e outro era para o embrulhar. E ou andávamos à bulha ou pela casa contra tudo porque éramos fantasmas.
Com isto vou a outras memórias de quando vestia o pobre coitado e pintava-lhe as unhas. Quando acordava e ele ia deitar-se ao meu lado enquanto recebia festas nas orelhas ou estava a estudar e ele ia deitar-se na minha cama a dormir para me fazer companhia. Quando ia para a escola e ao final do dia ele estava nas escadas à minha espera, e mesmo quando fui para a universidade e toda a sexta ele ficava a minha espera nas escadas e quando me via, ia a correr e fazia uma festa de uma forma ternurenta e nunca mais me largava. Todas as corridas pelo terraço. Estar a lareira à fazer-lhe festas.
Com o passar de 16 anos, veio os últimos dia dele, já bastante debilitado mas ainda a querer fazer tudo como antes. Uma energia e carinho que me preenchem. Ente os ataques de tosse e ficar sem força nas patas, ia ter com ele e fazer-lhe festas. Até quase o último suspiro dele segurei-o e mesmo depois. Um peso morto, mas uma alma que foi o irmão que não nasceu.