meu cão de guarda
É sempre uma dor. Perder um animal, ver a transformação de energia para o estagnar, sentir a impotência. Sentir a agonia da alma, mas um corpo que se queria manter vivo até se sentir preparado para adormecer.
Foi de mim que criaste confiança, de quem recebeste o primeiro verdadeiro carinho depois do abandono, com quem brincaste, quem te podia mexer em qualquer parte. Foste crescendo para um porte grande e tornaste-te um cão de guarda que impunha respeito, mas um doce à minha volta. As festas nas orelhas e barriga, as marradas para ter mais festas.
Mesmo da última vez que te vi, quando já estavas tão frágil, pediste-me e eu já sabendo que iria a última. Mas o que me vem à memória é aquele cachorro com olhos assustados até começarem a brilhar de novo, que nunca queria sair do meu colo, que só roia calçado, que corria com uma felicidade, com um peso morto a saltar para me fazer cair, com um olhar cerrado e orelhas sempre levantadas.
Já podes descansar, obrigado pelos ensinamentos à nossa família.
Agora a tua alma esta pronta.