nas ruas da meia noite
Em conversas da meia noite, a clareza esta presente e o interior exposto. No escuro da luz débil. O mais sincero e cru possível.
O que existe são possibilidades, caminhos. Decisões e escolhas, pelas portas e janelas abertas e fechadas ao longo do tempo. E no meio dessa construção encontra-se os pesos que se escondem atrás do que vê a luz. Os medos, as feridas, os impactos, as palavras que ficaram e magoaram, os desconsolo e aflições de um perfecionismo imperfeito, as vozes que não se calam e em instantes conseguem assumir o controlo.
Compreender que continuar no mesmo caminho não é mais uma possibilidade, resta ousar outras escolhas. Uma busca por onde começar, ou continuar, ou originar. A rua deserta que o corpo atravessa levando consigo sentimentos, contínua re-descorberta e a gravidade de autoconsciência. Em conversas no silêncio ou na partilha, o que faz vibrar na voz, brilhar nos olhos, sorrir nas feições imerge com brutalidade. Entusiasmo. Fogo. É um gosto, preferências que vem desde que comecei a construir a personalidade, interesses que não foram escolhidos ou aprofundados.
Que jogue a primeira pedra que nunca ouviu a típica frase "se queres ser alguém na vida", e pelas circunstâncias, as escolhas por escassez e pressão ditaram os anos. Só que o âmago sempre ficou com a deambular pelo amargo de a sociedade obrigar a escolher dentro de caixas com tão pouco conhecimento ou poder de explorar.
Existem lugares que provocam uma carência, de onde a felicidade era encontrada tão facilmente, de onde encaixava-me sem precisar de ajustar-me ou colocar uma máscara. Uma escolha que é aterrorizante, perante tempos em que era tão fácil esse lado surgir naturalmente e sorrir pela constante aprendizagem e crescimento. Um rumo ao desconhecido confortável que a natureza sabe.
Era tão fácil expressar ao mundo quem era. A maneira como o fiz, mesmo que com algum apreensão, não existiam tantas camadas ou muralhas. Porque é que agora existe medo? Porque é que agora quando embarquei no despir do corpo, o julgamento é aterrorizante? Porque é que o passado passou a fazer-me sentir que não é uma possibilidade quando foi das fases em que mais conhecia da minha identidade e era feliz na liberdade que vinha do interior.
É assustador. Continuar? Recomeçar? Mudar? O que é comum a tudo, é tomar ação! Abrir o jogo e espalhar as cartas na mesa sem perder o zelo e determinação, e ser capaz de continuar. Ficar presente e impedir que as vozes ganhem terreno falando as mentiras disfarçadas de situações distorcidas.