Sinceridade sobre 2020
2020, o ano que já esta bem marcado. Ninguém esperava que uma pandemia viesse alterar a realidade com que estávamos acostumados. E agora ao chegar ao final, é hora de fazer um balanço.
Partilhei aqui, o melhor que este me trouxe, uma enorme mudança na minha vida pessoal e profissional. Começar o ano a sair de uma casa e de um ambiente que fui construindo para ir fazer um estágio em bruxelas. 6 meses sem visitas ou a possibilidade de voltar à portugal devido à primeira quarentena. Não me arrependo, foi uma experiência que me fez crescer, enfrentar medos, sair fora da zona de conforto. Apesar de todas as vivencias, aprendizagens, memórias e suporte, não foi fácil! Voltar a estar numa relação à distancia, toda a saudade e redefinir a rotina quando já tínhamos criado a nossa casa. Ver-me sem as pessoas que me aturavam, aquela rotina tão boa de liberdade e simplesmente guiar. Ter que colocar o meu lado tímido de parte e ajustar-me a um mundo de trabalho, criar amizades, lidar com pessoas tão diferentes de mim, voltar a partilhar casa com pessoas desconhecidas ao início.
Todo o processo de mudança, adaptação e a quarentena obrigatória trouxeram consequências físicas e psicológicas que só agora começo a associar e a entender. Fisicamente foi uma questão de semanas até começar a criar sensibilidade no estômago que me limita hoje em dia e por toda a adaptação hormonal que estava a passar. Psicologicamente começou quando a quarentena acabou, e voltei a aproveitar o que era possível. Ataques de ansiedade que iam progredindo para ataques de pânico, ansiedade constante que me fez recolher mais sobre mim mesma. Aliando os dois problemas, é uma bomba para a qual tive que procurar ajuda e que agora estou a aprender a como controlar e manusear. A verdade é que esta a colocar um enorme peso no meu corpo...
Após uma noite passada no aeroporto a ver netflix, não parecia real que ia voltar à portugal. Uma longa espera pelas malas, um caminhar rápido com o coração a acelerar, procurar na pouca multidão aquele olhar que tanta falta me fez. De volta ao bom tempo, à minha família, aos meus amigos, a chatear os animais de estimação. Umas férias de volta aos locais que nos foram marcando. Veio o não descanço de viver entre 2 cidades, a pressão de ambas partes de não ficar tempo suficiente, de ser oficialmente desempregada e à procura de emprego no mundo não ajustado à realidade dos custos e competências. Saúde física e mental uma vez mais de mãos dadas e em declínio.
Tomada de consciência e assumir o poder pessoal perante o suporte que pensei que não fosse opor-se. A decisão de voltar para bruxelas trabalhar, quando as esperanças estavam a esvanecer-se e estava a ficar novamente tão confortável. Uma balança de 50-50 onde perdi e ganhei, ganhei e perdi. De volta a estar longe, numa relação à distancia, em confronto interno comigo mesma. A realidade de ter o meu primeiro emprego, todo o cansaço e aborrecimento, perceber o quão valiosos são os fins-de-semana!
E agora de volta à Portugal, para voltar uma vez mais, nesta nova vida que é tão ambígua. Com tanto a passar-se na minha cabeça, mas embrulhada no conforto, amor e gratidão. Remando contra a maré, fazendo amizade com os monstros, ajustar-se a esta nova forma de viver, a de ter 2 vidas interligadas mas separadas.
Foram mudanças que me trouxeram bastante. No início de 2019 prestes a começar uma tese para concluir o mestrado, não imaginava que no ano seguinte iria estar afastada de tudo o que conhecia e do conforto que sempre desejei. Mas também me trouxe problemas, dilemas e atitudes que tive que tomar.
Para acabar, consegui riscar grande parte do que tinha na minha bucket list. E olhando em retrospetiva para este ano capicua, foi desafiante, abanou a minha estrutura interna e externa mas cresci bastante como adulta.