o prazer de saber que (tentaste) fazer a diferença
Desde há 2 anos atrás que tenho feito os programas de voluntariado disponibilizados pelos IPDJ, onde tenho trabalhado sobretudo com crianças, a abordar os temas "Navegas em Segurança" e "Namorar com Fairplay".
Só que este ano foi diferente e posso dizer que transformacional.
Continuei a apresentar o "Navegas em Segurança" à crianças, mas desta vez ainda mais pequenas do que as que estava habituada. E é assutador o que elas observam e captam de ações dos pais, especialmente a maneira como depois contam certas situações. A minha geração (a dos anos 90), não crescemos com tecnologia mas acabamos por a apanhar ao longo ou final da nossa adolescência, e agora é algo com que já não podemos passar sem. E os mais pequenos sentem e são afetados por isso, ouvi comentários de "leva o telemóvel para todo o lado, até para a sanita", "já apanhou multas por estar a conduzir com o telemóvel", "esta sempre a escrever mensagens e a falar ao telemóvel". São hábitos inerentes mas não são saudáveis, porque que exemplo estamos a dar a geração que esta a vir? E infelizmente, com isto vem as histórias dos jogos que podem levar à morte, as chantagens e roubo de dados, que assustam as crianças mas ao mesmo tempo passam ao lado porque estão tão fascinados com este mundo tecnologico e vêem-nos a usá-lo a toda a hora, que querem imitar-nos... Aqueles comentários da inúmeras vozinhas fez-me perceber que a tecnologia é algo tão natural e estamos tão absorvidos que acaba por ser absurdo. Temos palas que não nos deixam entender a mensagem errada que estamos a transmitir, os momentos que estamos a deixar passar.
O "Namorar com Fairplay" este ano foi juntamente com outra voluntária na escola profissional de aveiro, por isso o público alvo já eram adolescentes e com faixas etárias variadas. Foi um autêntico desafio! Primeiro porque os temas abordados numa primeira fase foi a igualdade de gênero e o quanto o machismo esta enraizado e numa segunda fase a violência no namoro e doméstica e no final produzir-se conteúdo. Houve um pouco de tudo, turmas que apresentaram um maior desafio porque ou eram mais irrequietas e uma mentalidade ainda infantil ou tinham aquela mentalidade enraizada que "é normal", outras que até foi algo bastante natural e flui bastante pelo que deu para partilhar experiências e debates saudáveis. No último mês estivemos a trabalhar com idades superiores as 16 anos, pelo que a mentalidade e experiência já são outras, e o nosso discurso também já estava muito mais treinado e iamos logo diretas ao ponto da questão. Tenho que também saliantar que a equipa da escola é excelente e a maneira como eles ensinam é algo revolucionário que devia ser implantado em outros locais.
Tenho que admitir que falar sobre os temas começaram a mexer comigo (há tantas histórias que não são contadas, que deveriam para as pessoas terem noção de como é verdadeiramente a realidade), o quanto a sociedade esta errada e que há muita coisa que "é normal e bla, bla, bla" e pelo que uma mulher passa todos os dias e continua calada quando é necessário que se fale e sejam feitas denúncias para que se tome consciência de que é preciso tomar medidas. Houve uma turma que me fez tomar consciência que durante este último ano consegui(mos) fazer a diferença, que as palavras foram ouvidas e interiorizadas. Estavamos a falar ao mesmo nível que eles, e eles a olhar e focados em nós, como que a comer cada palavra que era dita, simplesmente não tem descrição o sentimento de realização, gratificação e satisfação. Foi nesse momento que soube que consegui fazer a diferença e impactar a vida de algumas pessoas.