Hoje acordei para falar a verdade que vai dentro de mim. Sem sinónimos, sem frases nas entrelinhas, o que é verdadeiro e cru. O que dói, mas é fácil passar despercebido. O que ainda não é bem definido ou aceite pela sociedade.
O meu desaparecimento foi principalmente pela depressão ter reaparecido. Não só a sazonal, toda a mudança que têm acontecido, os constantes contratempos, mas também devido a condições vividas no trabalho. Pressão, stress, julgamento, começar com o pé errado, mal entendidos. Mas desta vez, não era capaz de lidar sozinha, por isso fui procurar ajuda. Após 2 tentativas, encontrei alguém que logo na 1°consulta me fez ver com imensa clareza o que ponho para debaixo do tapete, por ser tão dura comigo própria. Os dias bons e maus continuam, mas existe mais clareza e entendimento sobre as razões, os triggers, a ansiedade.
A outra razão foi na noite do dia de páscoa, ter caído das escadas do meu apartamento (12 degraus de metal), só me vejo a tentar agarrar em vão ao varão e já no chão a chorar pelo impacto da queda, a dor e a adrenalina. Fui para o hospital (e desta vez a experiência foi a mesma que sempre tive em portugalm indiferença e tudo ao tempo das pessoas), com bastantes dores, sem conseguir sentar-me. Pouco depois com toda a dor e adrenalina, sinto-me a desmaiar e acordo já no chão. Isso fez as pessoas acordarem e finalmente ter uma maca e ser movida para um quarto. Mesmo com o comprimido, ainda bastante dor, um rabo a ficar da cor de uma ameixa, costas doridas e com as marcas dos degraus, um braço com feridasm o outro com mais nódoa negra.
Mas sendo casmurra, criada e ensinada ao modo português e tendo o corpo ainda a funcionar a adrenalina, passado 1 dia fui trabalhar e aguentei bem até ao final da semana. Mas no fim-de-semana, com o descanso e a presença de pessoas que trouxeram uma saudade de doer dos meus pais, família, amigos, país, a dor piorou e veio para ficar. Ainda fui trabalhar, mas a concentração e foco eram difíceis de manter e percebia-se claramente na minha cara a dor e desconforto em que estava. Pagar pela língua...
Baixa por 1 semana e meio. Tentar comprimidos que nada faziam passado 1 dia, relaxantes usculares que deixavam-me pior que estar drogada e completamente sem saber como ser uma pessoa, posições para aliviar as dores, massagens, acupuntura... Descanso, que era necessário para recuperar e ajudar a começar o processo de sarar. Pelo meio a lidar com dor física e emocional. Dias comigo mesma, voltar ao ioga e meditação, ganhar coragem para escrever sobre temas que há tanto tempo estão a ser remoídos dentro de mim sem conseguirem ser colocados para fora.
Não estou bem ou estou mal. Estou a recuperar, a lidar com dores, a viver com ansiedade e depressão, a continuar a vida perante contra as adversidades, a passar pelos dias com o melhor que me é possível.
Posso acordar bem e as coisas estarem a fluir, até ter um trigger que me leva na espiral da ansiedade, ou algo que me deixa embaixo e o peso volto ao meu corpo. Ou posso acordar já com aquela nuvem pesada sobre o meu corpo, a depressão a fazer-se sentir pela letargia, procrastinação e só querer que o dia passe para tirar a máscara e voltar para a cama e ficar lá escondida.
E é assim no silêncio, que as coisas passam despercebidas, que a saúde mental não é levada a sério, quando o impacto é enorme no físico.