Several Circle de Wassily Kandinsky

- fecha os olhos. o que vês? 

- nada. apenas preto. 

- foca-te nos círculos intermitentes. 

- mas eu não vejo nada. vou abrir-los e apreciar este céu estrelado. 

finais de primavera, inícios de verão. as noites não tão frias, mas também não tão quentes. deitadas no chão, após uma longa conversa sobre os efeitos de calmante natural. o corpo afundado no chão, olhos fechados com a imagem do céu gravada, a sentir o fresco em contraste com o quente da parte do corpo encostado ao dela, e os dedos sempre numa brincadeira a entrelaçarem-se uns nos outros. 

- podemos eternizar este momento?

- já o esta. não o sentes a bater aí dentro?

é surpreendida com um beijo doce e longo. 

Cabelo perseguido por dois planetas, Joan Miró

O dia começa cedo. O sol vai subindo no céu, as cores azuis da noite vão passando por rosa, laranja até ao azul. O nevoeiro que cobre os campos vai-se dissipando e o verde começa a aparecer. Em menos de uma hora, o amanhecer passa a uma manhã com um céu azul, um sol brilhante e uma paisagem entre verdes e castanhos do outono que se instala.

Era o dia da escolha. Após uma procura intensiva tinha chegado a altura de ir aos stands. Tinham várias opções, mas estavam mais inclinados para aquela marca que a captou desde o início da busca. Após algumas rondas e escolher, foi altura de um test-drive. O nervosismo estava presente, ainda não se sentia muito confortável a conduzir um carro a gasolina. Nem 5 minutos passaram e já estava escolha feita. 

Seguiu-se a parte burocratica, e felizmente os pacotes oferecidos acabaram por facilitar a vida, e não ter que voltar a andar para trás e para a frente com as visitas ao banco. Após toda a explicação, perguntas feitas e respondidas, chegou o tão desejado momento de ter a chave na mão!

O dia continuava azul, e parecia ainda mais brilhante, com cores mais vivas. Um dia de outono sem vento. As folhas castanhas e amarelas caiam com a gravidade.

Ilustração de moda, Almada Negreiros

As aparências era algo presente. Era importante a imagem para o mundo. Por influencia da pressão externa desde criança que vestia-se com as melhores roupas que tinha, tinha um calendário para não repetir os conjuntos, andava sempre a ver as tendências e a comprar o que se usava. 

Com o amadurecimento e a sua descoberta descobriu que seguir os outros levou a não encaixar num estilo, nada dava aquele sentimento de poder e confiança. E assim, deixou de seguir a moda do momento. Passou a seguir o que os seus olhos viam no momento.

Quis o caminho levar a encontrar uma pessoa que ligava ao que vestia e o que os outros iriam pensar e julgar. Era uma prova entre respeitar e respeitar-se. No fundo, bem, escondido no interior tinha os seus desejos de roupa ideal, que sempre sonhara. 

O beijo, Gustav Klimt 

abraço de conforto perante adversidade. segurança durante a tempestade. beijo de saudade e amor. 

é difícil explicar como é crescer pessoalmente e numa relação. é algo que apenas acontece e se constrói. cuidado, carinho, confiança, comunicação, respeito, liberdade, valores.

abraço, dois corpos em junção, momentos de prazer e paixão. 

inexplicável, vê-se e sente-se. 

Sobreiro de Malhoa

O sobreiro, no caminho para a casa era o que lhe incentivava a mostrar-se ao mundo pela sua arte. Apesar da sua casca ser removida, a sua capacidade de regeneração e longevidade eram extraordinários. Uma parte era retirada, mas continuava em pé em direção à terra e ao céu.

Anos a viver na agitação da cidade, que a viciava, mas também a deixava vazia por acabar a querer sempre mais. O contraste com o interior de ansiar por algo calmo e estável. A pressão começou a acumular e a acumular, até levar a loucura de em dois meses mudar o rumo que levava. Largou o emprego para se dedicar à pintura e fotografia. Pegou nas poupanças e mudou-se para o campo. Numa semana empacotou a sua vida. Guiou para o que viria a ser o seu refúgio. Deu início ao capítulo mais libertador e realizador. 

Ao inicío teve que se sujeitar a fazer quilómetros para continuar a contetar sustentar-se, enquanto explorava o mundo da arte. Chorou, questionou-se, quis desistir. Só que continuou. Lentamente o seu nome começou a ser conhecido, depois reconhecido. As circunstâncias da vida alteraram-se e passou a dedicar-se exclusivamente à arte.

E aquele sobreiro era o amuleto que a fazia continuar. 

El sueño, Frida Khalo (1940)

um corpo pesado e cansado, caído na cama com o peso de uma pedra. o esqueleto completamente entregue à terra no meio do desconfortável do confortável da noite. adormece. uma alma nua e sem peso, que se prepara até ser hora de começar mais uma viagem.

um vestido branco com tons azuis escuros subtis. cabelo entrelaçado com pequenas folhas e ramos. a correr por entre relva, saltar riachos, dançar ao redor das árvores, continuar a correr pela areia e continuar nesta libertação corporal até alcançar as ondas do oceano. 

um sonho, um pesadelo, um reviver com mais algumas peças do puzzle do dia, imaginar o futuro, espiral pelos medos e inseguranças, uma viagem pelo mundo astral.

onde o corpo é deixado, o ego colocado a um canto a assistir, as personalidades a conhecerem-se, o eu superior a intergrar e transmitir mensagens.

40 anos - Fátima Mano

O sol de inverno a entrar pela janela, aquecendo o estúdio. O gato enrolado sobre si a dormir no tapete. A cama quente, semi-feita e ocupada. Veste o robe mas não o fecha. Desce as escadas e vai preparar o café. Com o café na mão, vai sentar-se no chão ao pé dele e saborear o conforto. Ao pé da janela tinha um espelho de copo, e ao lado destes cadernos e livros. Pega no livro mas fica perdida a olhar o seu reflexo no espelho e o ambiente minimalista do espaço. Para aqueles momentos, tudo vali a pena.

Após muita procura tinha encontrado o seu estúdio de sonho. Pequeno, mas com dois andares e já mobilada. Na parte debaixo tinha a cozinha aberta com sala, e uma casa de banho com duche. Uma janela com uma varanda inexistente mas que deixava entrar imensa luz. As escadas de madeira levavam à parte superior, um quarto no sótão com espaço para a cama e um pequeno móvel. A estrutura estava bem organizada e pensava, todos os espaços estavam bem aproveitados para arrumação, móvel debaixo da escada, móveis de esquina, portas deslizantes. Aproveitava o resto do dia para organizar à sua maneira, luzes como decoração, posters imprimidos em papel, tapetes, livros, cristais. O seu novo espaço.

Edvard Munch, O grito

abismal. perante a continuação daquele ponte que aparenta não ter fim. uma longa caminhada, em espiral. outras pessoas passam na direção ou na aposta.

aquele aperto no estômago, a respira curta e raza. o corpo encolhe-se sobre si, pede algo confortável, mas isso não ajuda. fugir para a noite. solitário. o escuro num laranja que vai ao vermelho. 

expulsar. mexer. partir. gritar no carro em viagem. ficar com o corpo parado a sentir a chuva fria na pele. ficar na ponte sem saber que direção seguir.

imaginação. surpresa. apatia. frustração. revolta. surpresa. indecisão. medo. 

pensamentos que não param. mente inquieta com medos e inseguranças. 

No desafio Arte e Inspiração, participam  Ana de Deus, Ana Mestre, bii yue, Bruno Everdosa, Célia, Charneca Em Flor, Cristina Aveiro, Gorduchita, Imsilva, João-Afonso Machado, José da Xã, Jorge Orvélio, Luísa De Sousa, Maria Araújo, Marquesa, Mia, Olga, Peixe Frito, Sam ao Luar, SetePartidas

Stary night de Vincent Van Gogh.

sonhos em espirais. recorrentes. começar pelo meio, ir até ao final e inicia um novo. cenários diferentes, mas as mensagens são sempre as mesmas. cores distoridas, os tons de azul constantes, as pequenas luzes ao fundo. o frio e quente para mergulhar nas profundezas da alma. as espirais para encontrar e resignificar a harmonia na vida. o conhecimento que o insconsciente carrega. as corridas de encontro à liberdade. a melancolia e depressão que as personagens carregam de si e da ancestralidade.

as constantes ansiedades, o pragmatismo de quem vive numa caixa, a dificuldade de compreender a complexidade e largar as rédeas que não pertencem. a sabedoria de quem sempre soube, a constante procura pela estabilidade e tranquilidade no azul do céu e da água. as noites passadas a olhar o céu estrelado, a falar com a lua. contando as mágoas, alegrias e sonhos. a clareza surgindo em sonhos, compreensões profundas, verdades que pesam, ações de cortar as cordas que dói. o iníco semelhante. atitudes que são pequenos passos.

mergulhar no azul escuro. pequenas luzes ao fundo. cair em queda livre até ao azul claro e ficar a flutuar nas águas calmas. a luz intensa da lua sempre presente. 

 desafio arte e inspiração da Fátima Bento, com a ajuda de:
Ana D., Ana Mestre, bii yue, Célia, Charneca Em Flor, Concha, Cristina Aveiro, Fátima Bento, Gorduchita, imsilva, João-Afonso Machado, Jorge Orvélio, José da Xã, Luísa De Sousa, Maria Araújo, Maria, Marquesa, Miss Lollipop, Olga, Peixe Frito, Sam ao Luar.

"A Grande Onda de Kanagawa" de Katsushika Hokusai

Tumultuoso. Desassossegado. Abalado. 

Ondas ferozes que engolem o que lhes faz frente. Contrastes de azuis, entre as levadas de água e a espuma. Um céu pintado de cinzento, a largar as suas mágoas pesadas. Sobre um oceano vasto e perdido pelo olhar. 

Estabilidade inexistente. Impossibilidade de navegar contra ou a favor. Força contra raiva. Lágrimas contra rios. Boiar no cheio, no vazio. 

Levar com a ferocidade do mar. Sentir o pranto do céu. Ficar nas fragéis tábuas de madeira.

 desafio arte e inspiração da Fátima Bento, com a ajuda de:
Ana D., Ana Mestre, bii yue, Célia, Charneca Em Flor, Concha, Cristina Aveiro, Fátima Bento, Gorduchita, imsilva, João-Afonso Machado, Jorge Orvélio, José da Xã, Luísa De Sousa, Maria Araújo, Maria, Marquesa, Miss Lollipop, Olga, Peixe Frito, Sam ao Luar.