Toda a Gente Nesta Sala um Dia Há de Morrer
"Everyone in This Room Will Someday Be Dead", de Emily Austin, é uma obra que combina humor negro, vulnerabilidade e reflexões existenciais numa história profundamente humana. É um livro que com o título já prepara o leitor para uma jornada que aborda os medos universais da mortalidade e do sentido da vida, enquanto nos apresenta uma protagonista que é ao mesmo tempo, cativante e extremamente real.
Gilda, a protagonista, é uma jovem queer de vinte e poucos anos que luta contra a ansiedade, a depressão e um constante sentimento de inadequação no mundo. Quando um panfleto de uma igreja promete "respostas" e "paz", ela acaba, meio por acaso, a candidatar-se a um emprego como rececionista na paróquia, que apesar de ser ateia e de se sentir desconfortável no ambiente religioso. Para complicar as coisas, Gilda assume o papel da antiga rececionista falecida, e a sua vida começa a entrelaçar-se com segredos do passado daquela mulher, enquanto tenta manter desesperadamente a fachada.
A escrita de Emily Austin é direta, irreverente e cheia de observações mordazes sobre as complexidades da vida moderna. Acho que esse ponto foi o que me fez ficar rendida e sentir tanta emoção e profundidade. Especialmente por Gilda ser uma personagem desarmantemente honesta, com pensamentos muitas vezes caóticos que ecoam o que sentimos, mas raramente temos coragem de dizer em voz alta. A pergunta que realmente ponderou durante toda a leitura foi o que significa verdadeiramente viver.
Apesar do tema da morte, envolvido nos ataques de ansiedade/pânico, o humor dá uma leveza disfarçada, que leva a reflexões mais pesadas. E nas situações que parecem saídas de um filme, em que o riso aparece pelo sarcasmo, também vem envolvido com uma sensação de desconforto. Por trás do humor está a dor genuína de alguém que tenta desesperadamente encontrar o seu lugar no mundo.
O que me cativou, foi a abordagem à saúde mental, de uma forma honesta e como a sociedade aborda as situações. O retrato da ansiedade é feito com uma autenticidade que ressoa profundamente, sem cair em clichés ou simplificações. A protagonista é confusa, assustada e muitas vezes incapaz de tomar decisões racionais, tornando-a humana e fácil de conectarmos. Em alguns momentos, as ações de Gilda podem ser frustrantes, mas isso também é um reflexo realista de alguém que está a lutar contra as suas próprias emoções e demónios.
É daqueles livros que podem parecer que irão ser simples, mas acabam a levar a uma introspetiva, ressoar com algumas das emoções. No final, é um retrato autêntico da saúde mental. Não é uma história de "soluções" ou finais felizes convencionais, mas leva a pensar sobre a vulnerabilidade do ser humano e da humanidade.
Um lembrete de que, mesmo na escuridão, há momentos de beleza, humor e conexão. Uma celebração da imperfeição e uma lembrança gentil de que, embora a mortalidade seja inevitável, ainda há espaço para encontrar conexão, alegria e significado no tempo que temos.