cidade rodeada, cidade desfigurada
Devastador!
Tão perto, mas tão longe.
Tentar ir dormir com um coração enorme no peito, ter ouvido o início das notícias que o fogo começou a rodear a minha cidade e a minha aldeia. Acordar, percorrer o feed e aperceber-me da realidade, não restou "quase" nada. Finalmente conseguir falar com os meus pais, sentir o meu coração a diminuir à medida que ouvia o relato do que não restou.
Ninguém dormiu. Aflição por ver as chamas tão perto, por ver as labaredas a pousar num local e começar um novo foco de incêndio ou esperar que isso não aconteça. Medo do som de explosões de carros a explodir, aramazéns a serem desvatados. O movimento de pessoas na rua a tentarem salvar os animais quando o fogo esta a metros de casa. Tentativas de escapar, mas as estradas estão cortadas pelas chamas e não há para onde fugir, existe apenas uma espera que passe rápido e que se salve pelo menos as vidas.
O dia começo pintado de um negro que continua a parecer noite, os estragos começam a ser visíveis e há apenas uma palavra calamidade! O pouco que restava verde despareceu, os espaços mais improváveis pintaram-se de cinzas e preto. Sem luz, sem água, comunicações cortadas. Contam-se estragos, vidas perdidas, pede-se ajuda e aguarda-se pela tão esperada chuva.
O dia acaba, aos poucos a luz e água voltam, as comunicações continuam demoradas e com interferências. O abalo continua no ar, o choque de uma calamidade faz-se sentir nas pessoas que perderam tudo, nas que viveram a aflição, nas que ficam a espera de notícias.
Calamidade! Em pleno outono ocorre o pior dia de incêndios, um dos mais devastadores dias para um concelho e um país. É devastador ver as imagens e vídeos, será ainda pior quando voltar de fim de semana e vir com os meus próprios olhos. Destruição, ausência, vazio.
Tondela, 17 de Outubro de 2017